Natural de Cachoeira, na Bahia, Everlane Moraes cresceu em Sergipe, estudou na Escuela Internacional de Cine y Televisión, em Cuba, especializando-se em direção de documentário, e tem formação em Artes Visuais pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia . 

O deslocamento transcontinental da cineasta é uma camada que possibilita entender seus filmes como tradução artística dos pertencimentos não fixos dos afrodiaspóricos no contexto específico das Américas, evocando reflexões sobre os conceitos de amefricanidade¹ e transatlanticidade². 

Atualmente desenvolvendo três longas3, Everlane já realizou oito curtas-metragens – provavelmente uma das mais vastas filmografias entre cineastas negras brasileiras contemporâneas –, sendo a maioria deles documentários interessados pelo registro de personagens e territórios familiares (ou nem tanto) e pela interpretação antenta de seus cotidianos. 

Em verdade, muitos de seus filmes implodem os limites entre documentário e ficção e se lançam ao experimentalismo formal como gesto artístico-político; um bom exemplo do que a influência direta de outras artes, como as visuais, são capazes de potencializar na já impura arte cinematográfica. 

Nesse sentido, podemos considerar as experimentações formais de filmes que compõem o cinema de Everlane parte de um cinema negro brasileiro contemporâneo (de mulheres!) mais radical nas elaborações imagéticas de percepções, vivências, memórias e esperanças individuais e coletivas de pessoas negras amefricanas. 

Que os filmes formal e discursivamente libertários de Everlane Moraes tenham vida longa e resultem cada vez em mais frutos.